segunda-feira, 21 de março de 2011

Como surgiu a Cachaça, Pinga ou Aguardente

No começo da colonização do Brasil, a partir de 1530, a produção açucareira apareceu como primeiro grande empreendimento de exploração. Afinal, os portugueses já dominavam o processo de plantio e processamento da cana – já realizado nas ilhas atlânticas – e ainda contavam com as condições climáticas que favoreciam a instalação de grandes unidades produtoras pelas regiões litorâneas no território.

Para que todo esse trabalho fosse realizado, os portugueses acabaram optando pelo uso da mão de obra escrava dos africanos. Entre outras razões, os colonizadores notavam que os escravos africanos eram adaptados ao trabalho compulsório, apresentavam maiores dificuldades para empreender fugas e geravam lucro à Coroa por conta dos impostos cobrados sobre o tráfico negreiro.

No processo de fabricação do açúcar, os escravos realizavam a colheita da cana e, após ser feito o esmagamento dos caules, cozinhavam o caldo em enormes tachos até se transformarem em melado. Nesse processo de cozimento, era fabricado um caldo mais grosso, chamado de cagaça, que era comumente servido junto com as sobras da cana para os animais.

Tal hábito fazia com que a cagaça fermentasse com a ação do tempo e do clima, produzindo um liquido fermentado de alto teor alcoólico. Desse modo, podemos muito bem acreditar que foram os animais de carga e pasto a experimentarem primeiro da nossa cachaça. Certo dia, muito provavelmente, um escravo fez a descoberta experimentando daquele líquido que se acumulava no coxo dos animais.

Outra hipótese conta que, certa vez, os escravos misturaram um melaço velho e fermentado com um melaço fabricado no dia seguinte. Nessa mistura, acabaram fazendo com que o álcool presente no melaço velho evaporasse e formasse gotículas no teto do engenho. Na medida em que o liquido pingava em suas cabeças e iam até a direção da boca, os escravos experimentavam a bebida que teria o nome de “pinga”.

Nessa mesma situação, a cachaça que pingava do teto atingia em cheio os ferimentos que os escravos tinham nas costas, por conta das punições físicas que sofriam. O ardor causado pelo contato dos ferimentos com a cachaça teria dado o nome de “aguardente” para esse mesmo derivado da cana de açúcar. Essa seria a explicação para o descobrimento dessa bebida tipicamente brasileira.

Inicialmente, a pinga aparecia descrita em alguns relatos do século XVI como uma espécie de “vinho de cana” somente consumida pelos escravos e nativos. Entretanto, na medida em que a popularização da bebida se dava, os colonizadores começaram a substituir as caras bebidas importadas da Europa pelo consumo da popular e acessível cachaça. Atualmente, essa bebida destilada é exportada para vários lugares do mundo.

Por Rainer Sousa
Mestre em História
Equipe Brasil Escola

http://www.brasilescola.com/curiosidades/

A História do Café

Há cerca de trezentos anos, o café tem sido uma bebida popular em todo o mundo civilizado, mas pouco se sabe sobre a maneira exata como foi descoberto.

Talvez você tenha ouvido algumas lendas antigas sobre cabras pastando nas montanhas, comendo os frutos do cafeeiro, e em seguida dando cabriolas devido às propriedades estimulantes do café.

Existem outras narrativas que falam sobre um fanático religioso expulso de Moca que se refugiou nas montanhas da Arábia. Ele provou alguns frutos estranhos que cresciam num arbusto. Como eram amargos, ele tentou melhorar o sabor tostando-os sobre o fogo. Isso os tornou quebradiços, e ele tentou amolecê-los na água, e quando a água na qual os grãos estavam imersos se tornou marrom, este Sr. Omar (pois este era o seu nome) bebeu e descobriu como aquilo era bom e revigorante. Isso foi lá pelos idos do século treze. Muito antes disso o café crescia à vontade na Abissínia.

O café, até o final do século dezessete, vinha totalmente da Arábia e era conhecido como Moca, o nome da cidade de sua origem. Mais ou menos naquela época, espertos mercadores holandeses, percebendo a crescente demanda e as perspectivas de um novo comércio, induziram seu governo a experimentar a plantação de café nas possessões das Índias Orientais Holandesas. O governador da Ilha de Java distribuiu sementes em várias partes da Ilha e devido à fertilidade do solo e as condições climáticas favoráveis, logo as plantas se desenvolveram. De Java, o café espalhou-se para as Índias Ocidentais e finalmente para a América do Sul e Central, onde o clima era particularmente propício ao rápido desenvolvimento do cafeeiro. Ali o seu cultivo foi feito de maneira extensiva, até agora, e provavelmente 90% de todo o café cultivado vem do Hemisfério Ocidental.

quarta-feira, 2 de março de 2011

DAR UMA DE JOÃO-SEM-BRAÇO

No princípio do século passado, Portugal vivia um momento de agitação política iniciado em 1906, quando o rei Carlos I e o príncipe herdeiro foram assassinados e Dom Manuel subiu ao trono. Mas isso não acalmou os opositores da realeza, que decidiram então empreender um movimento revolucionário cujo desfecho foi a deposição do novo rei e a implantação do sistema republicano de governo no país. Porém, todo mundo sabe o que a linguagem corrente entende por revolução: uma ação armada que tem como objetivo a substituição violenta dos detentores do poder, geralmente trazendo em sua esteira a morte, a mutilação e a ruína de gente que se envolveu na disputa às vezes contra sua própria vontade, ou então porque infelizmente estava no meio do caminho.

No caso de Portugal, as regras determinavam que feridos e aleijados não podiam ser deslocados para o campo de batalha, princípio que pouco a pouco foi sendo estendido aos que precisavam suar o rosto para ganhar o pão-nosso-de-cada-dia. Assim, como a simulação de que alguém não tinha ou um, ou os dois braços, transformou-se em razão para afastá-lo das obrigações de trabalho, os gozadores da época aproveitaram a farsa em moda e criaram a expressão "dar uma de João sem-braço" , que passou a ser aplicada em todas as situações onde o cidadão apresentava alguma desculpa meio marota para justificar o descumprimento de compromissos, a intenção de não assumir responsabilidades, ou qualquer ação praticada com esperteza mal-intencionada. Muita gente continua fazendo isso até hoje, principalmente quando o objetivo visado são as aposentadorias indevidas e indenizações fantásticas pagas por nosso pródigo INSS.

O nome João é muito popular e certamente essa é a razão pela qual está presente em inúmeras expressões usadas em nossa linguagem, como é o caso de “joão-ninguém”, designação dada ao indivíduo pobre, ignorante e sem nenhuma importância, e de “joão-bobo”, apelido aplicado às pessoas demasiadamente ingênuas e inocentes, e que, por sinal, serve como título para uma das histórias infantis do escritor dinamarquês Hans Christian Andersen (1805-1845), recontada pela brasileira Ana Maria Machado. Quanto à expressão “João-sem-Braço”, o professor Deonísio da Silva sugere que ela provavelmente tenha surgido de “comentários de homens anônimos que alegavam nada poder fazer, quando solicitados a trabalhar”, esclarecendo que “como Portugal formou-se a partir de sucessivas guerras travadas em seu próprio território, eram muitos os feridos e aleijados que, por sua condição, estavam impedidos de trabalhar, os primeiros temporariamente, e os outros para o resto de suas vidas, em muitos casos. Simular não ter um ou os dois braços constituiu-se em escusa para fugir ao trabalho e a outras obrigações. Não demorou e a expressão ‘dar uma de joão-sem-braço’ migrou para o rico, sutil e complexo reino da metáfora, aplicando-se a diversas situações em que a pessoa se omite, alegando razão insustentável”.

FERNANDO KITZINGER DANNEMANN